Maria  Sibirtseva
Maria Sibirtseva

27\11\2011 min

Entrevista com Stefano Zocca, o primeiro colocado do concurso “Autenticidade 2.0”

O fotógrafo italiano Stefano Zocca, é o primeiro colocado do concurso de fotografia “Autenticidade 2.0” do Depositphotos. Ele se apaixonou pela fotografia desde muito jovem, desenvolvendo uma visão única e um ótimo “olhar fotográfico” que resultou em muitas fotos premiadas ao longo de sua carreira.

A visão original de Stefano faz você se questionar sobre os segredos para conseguir fotos perfeitas e quais equipamentos ele usa para capturá-las. Nesta entrevista, você poderá encontrar as respostas para essas perguntas e muitas outras informações reveladas pelo nosso vencedor do concurso.

 

Meu pai me inspirou com seu fascínio pela fotografia

No começo da minha adolescência, meu pai ensinava a entender o que estava por trás de uma boa fotografia – atenção à luz, perceber o que o cerca e compreender a técnica de uma fotografia de qualidade. Sem ele, provavelmente não teria algumas habilidades, especialmente o “olhar fotográfico” que manifesta-se após milhares de fotos.

Comparando os anos passados em que a fotografia simbolizava algo artesanal, as coisas mudaram muito. Como exemplo, temos a facilidade de produzir uma imagem digitalmente, ao invés de usar filme. Convenhamos que era exagero voltar das férias com rolos com 4×36. Agora você pode fazer a mesma sequência de fotos em uma só sessão, e obter os resultados em tempo real! Essa grande produção fechou todos os espaços disponíveis, fazendo com que toda a teia de imagens fossem congestionadas. Isso tudo levou a uma maior e constante manipulação das fotografias.

Ballerina Stefano Zocca

Ballerina / © Stefano Zocca

Você consegue ver essas tendência em todo tipo de fotografia. Todos eles exploram uma quantidade infinita de ferramentas de pós-produção e consequentemente têm em comum a extremização de uma imagem e a maximização do impacto da mesma. Até os mais prestigiados concursos fotográficos determinaram a proibição de “apagar” pedaços de uma imagem.

O que não me agrada na fotografia moderna é o exagero e a padronização. Ao invés disso, prefiro desfrutar da sensação inigualável de capturar uma fotografia com aquela luz característica que você só consegue registrar em um instante de plena consciência e que, felizmente, podemos contemplar imediatamente com a ajuda da tecnologia.

 

Busco por simplicidade na fotografia

Minhas fotografias raramente são caóticas e esta é uma linha tênue que une a maioria das minhas capturas. Geralmente, não me especializo em nenhum dos tipos clássicos: prefiro ir do retrato à fotografia de natureza de maneira orgânica e despretensiosa.

A partir do momento em que eu descobri o digital, fiquei empolgado com a fotografia subaquática e essa nova geração de “câmeras de ação” conseguiu me auxiliar muito bem nisso. Com sua versatilidade, eu pude participar de muitos concursos fotográficos (incluindo Autenticidade 2.0). Eu também cultivo um grande fascínio por vídeos e ultimamente, por filmar com drones que representam a última novidade do mercado.

Câmeras que eu uso, da Zenit à GoPro Hero 4 Black

Comecei usando uma Zenit equipada com uma Helios F2 50 mm, depois passei para a Nikkormat (com o conjunto completo de lentes NIKKOR AIs do meu pai) para depois passar 30 anos com a Nikon F Photomic.

Em 2012 até os dias atuais, uso a Nikon D800, mas com lentes NIKKOR dos anos 70. Como sempre tive equipamentos Nikon em casa, foi quase que obrigatória a minha escolha. E eu não acredito que irei mudar de ideia tão facilmente em prol das câmeras mais modernas, como as mirrorless que, segundo muitos fotógrafos, é dita como o futuro. Mas quem sabe. E como eu falei anteriormente, eu combino meu equipamento com uma GoPro HERO4 Black.

 

Eu tento nunca alterar a “essência” de uma foto

Vindo de anos da sala escura, a passagem para a “sala clara” foi um tanto quanto chocante, no entanto, após algumas falhas eu dominei as principais ferramentas de correção. Estou citando as correções pois, exceto em alguns casos, busco não alterar a “essência” de uma foto. Inclusive, eu uso os programas clássicos de edição, como a versão de 10 anos do Lightroom.

Devo admitir que a facilidade com que, hoje em dia, você consegue trabalhar em um arquivo raw (particularmente em preto e branco) não me deixa sentir falta dos velhos tempos.

Stefano Zocco winner of Depositphotos photography contest

Pale Mountains / © Stefano Zocca

O que é autenticidade em uma fotografia?

Acredito que já estamos esclarecidos sobre o que é autenticidade. Não é algo relacionado ao uso ou não da tecnologia, mas sim, sobre como é usada para alterar a percepção com o propósito de desviar o espectador do conteúdo principal da imagem.

O comentário que sempre é feito por quem realiza um tipo de fotografia mais modificado, é a presunçosa afirmação de que querem colocar o Photoshop e o preto e branco no mesmo patamar. Não deixa de ser verdade que privar uma imagem de cor é uma alteração extrema da percepção humana, porque “remove” (e não “acrescenta” como normalmente ocorre nas edições de pós-produção), deixando mais espaço para os conteúdos fotografados.

Por algumas décadas, a fotografia em preto e branco foi minha única forma de expressão. Principalmente, porque me concedeu extrema liberdade de ação, conseguindo administrar quase todos os parâmetros qualitativos com a sala escura. Então, por que eu ainda acredito que a ausência de cor é a melhor forma para “perceber” a realidade? Porque a cor, na maioria das vezes, desvia e torna mais difícil observar o que é verdadeiro e tangível. As sombras são pretas, o sol é branco e bem no meio encontra-se um mar de cinzas. O que é mais atraente?

 

A história por trás da fotografia premiada “Pietro Adolescence”

Eu havia acabado de comprar uma GoPro e estava ansioso para testá-la na água. Lamentavelmente, estávamos no meio do inverno, e a primeira oportunidade apareceu durante uma viagem a Villach (Caríntia, Áustria), onde encontramos uma das mais lindas piscinas termais da região: focado na ótima ideia de fotografar meus filhos, mantendo a GoPro abaixo da superfície da água e apreensivo pelo resultado.

Das 15 fotos que tirei naquele dia, uma chamou minha atenção em especial. A união da bela expressividade do olhar do meu filho (Pietro) na época em que ele ainda era uma criança, com uma estética deformada devido ao efeito da lente embaixo d’água. Essa divisão de expressão me inspirou para criar a legenda da foto.

Depositphotos-Photography-Contest-First-Place-Winner_Stefano-Zocca

“Pietro Adolescence” / © Stefano Zocca

O assunto dessa imagem pode ser representado por duas expressões vinculadas a um mesmo corpo: o rosto ainda de um pré-adolescente (com um olhar, porém, já ciente das mudanças que estão acontecendo), e uma parte já desenvolvida como um crescimento irrevogável na idade adulta. E mais, o Pietro nunca gostou dessa foto (ele tem vergonha), mas depois de alguns anos começou a entender os motivos que me fez querer torná-la pública. Caso tenha conteúdo, a mensagem que irá surgir será muito mais forte, e era esse o meu objetivo com esta fotografia.

 

Como foi feito o “close” do íbex que estava entre os finalistas do concurso Wiki Loves Earth

Aqui vai mais uma ótima história com Pietro. Esta foto, em meio a outras lindas fotografias (uma em especial me rendeu 3 prêmios internacionais…) foi o destaque de um dia deslumbrante nas montanhas com meu filho de 13 anos, Pietro. Naquela ocasião, eu tive a oportunidade de admirar aquela linda criatura – o íbex. Resolvi levar meu filho comigo para que ele conseguisse experimentar a sensação de conhecer esses belos animais selvagens em seu habitat natural. Eles eram numerosos e sociáveis. Evidentemente, eu tinha comigo todo o equipamento fotográfico necessário. Eles deslocavam-se rapidamente pelas beiradas das pedras – sem receio ou insegurança, tornando tudo, aparentemente, mais fácil e seguro. Mas era perigoso, e eu temia por eles!

Quando vi aquilo, comecei a fotografar com minha fiel Nikon D800 e a espetacular NIKKOR AI 135mm f/2.8. Quero pontuar que essa lente é dos anos 70, sem foco automático. Incentivado pelo meu filho, me posicionei com segurança na extremidade do penhasco para conseguir fotografar o íbex que estava se equilibrando em um relevo estreito acima daquele imenso abismo.

Aquele foi um momento inesquecível, e agradeço todos os dias à Mãe Natureza por me servir esse presente em uma bandeja de prata e também por me permitir passar um dia memorável com meu filho. Posteriormente, a única pós-produção que fiz foi aumentar o contraste e o brilho para diminuir o efeito que a névoa causou.

The two rivals - Stefano Zocca

The two rivals / © Stefano Zocca

 

Meu conselho para os fotógrafos iniciantes

Para que querem começar seriamente a “praticar” a fotografia, eu sempre recomendo uma coisa: não ter medo de errar tentando novas formas de expressão. O pior é tentar copiar as formas expressivas dos fotógrafos famosos, ao invés tentar focar na originalidade que nossa experiência íntima pode mostrar com a imagem fotográfica.

Na maioria das vezes sou um fotógrafo muito “instintivo” e sensível ao tipo de luz que aparece em determinadas horas do dia ou em condições climáticas específicas. Por esse motivo, sempre aconselho prestar muita atenção ao tipo de luz que cada momento do dia proporciona.

Minha última dica: não tenha receio de enviar seu trabalho para concursos de fotografia!

 

Lugares preferidos para fotografar

Definitivamente não tenho um destino favorito para fotografar, mas tenho alguns “lugares preferidos” que estou mais apegado e que ultimamente tem sido os temas (e planos de fundo) de algumas fotos que registro.

Estou me referindo à minha terra natal de minha avó materna (mas, na verdade, nasci e moro em Bolonha, Emilia-Romagna) Friuli Venezia Giulia. Essa região é pouco conhecida na Itália, situada entre a Áustria e a Eslovênia, particularmente representada pela variedade de paisagens, desde estâncias balneárias da costa ao sul até os desdobramentos das Dolomitas a oeste e os Alpes Julianos ao norte/leste. Sou mais ligado a este último, onde passei minhas longas férias de verão quando era criança. Fui tomado por uma sensação que me levou a frequentar esses lugares sempre, e acabei me tornando um soldado alpino. Eu tento passar essa emoção para meus filhos, mas é muito difícil convencer essa nova geração a passar um tempo nas solitárias montanhas selvagens.

Suspense / © Stefano Zocca

Suspense /© Stefano Zocca

 

Um fotógrafo que influenciou minha visão

Sou apaixonado por paisagens e imagens em preto e branco. Então, o meu ídolo só pode ser o Ansel Adams. O que me atraiu Inicialmente, foi apenas o aspecto técnico das fotos dele. Até que fui aprendendo e conhecendo mais sobre os aspectos interiores da fotografia. Citando o próprio Ansel Adams, “A fotografia é uma investigação dos mundos externo e interno. As primeiras experiências com a câmera envolvem olhar para o mundo além da lente, confiando que o instrumento irá ‘capturar’ algo ‘visto’. Os termos tirar e capturar não são acidentais; eles representam uma atitude de conquista e apropriação. Somente quando o fotógrafo cresce em percepção e impulso criativo é que o termo fazer define uma condição de empatia entre os eventos externos e internos. “

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