A Equipe Feminina e as Colaboradoras da Empresa Depositphotos Compartilharam Suas Histórias Sobre a Guerra na Ucrânia
Já se passaram 21 dias desde que a guerra na Ucrânia começou. Desde então, o conflito só foi se intensificando e os ucranianos foram forçados a suportar alguns dos eventos mais aterrorizantes da história.
Algumas pessoas tiveram que se esconder temporariamente em abrigos antibombas, outras estão tentando evacuar seus filhos, avós e animais de estimação para o exterior. Muitos cidadãos saíram às ruas se voluntariando, enquanto muitos defendem ativamente nosso país de agressores violentos. Cada dia que passa desta guerra brutal, centenas de vidas são tiradas, deixando marcas irreparáveis nas memórias que os ucranianos têm do ano de 2022.
A biblioteca do Depositphotos cobre diversos eventos que ocorrem no mundo e já possuímos milhares de imagens que mostram a guerra na Ucrânia. Esta publicação acompanha histórias reais de mulheres colaboradoras e membros da equipe do Depositphotos, que permanecerão como parte integrante da história, que esperamos que nunca mais se repita.
Nina Korobko, editora sênior e roteirista do Depositphotos
Eu moro sozinha, e no primeiro dia de guerra eu acordei às 7h da manhã com sons de sirenes. Por um momento eu pensei, “isso é uma alucinação? Estou pensando demais?”. Depois de alguns segundos – “Talvez é um alarme teste?”, mas as sirenes não pararam. Eu pulei da cama rapidamente, peguei meu laptop e abri as notícias e li o seguinte título: “Putin começou a guerra”.
Nas semanas que antecederam o dia 24 de fevereiro, conversei com parentes e amigos sobre uma potencial escalada da situação. Todos entenderam que existia a possibilidade de uma agressão. Mas honestamente, a maioria dos meus conhecidos e eu não esperávamos uma destruição dessa escala. E também não achávamos que a guerra iria chegar a Kiev.
Na manhã do dia 24 de fevereiro, eu estava paralisada. Também estava brava comigo mesma por isso. Eu tive que agir rapidamente, mas meu cérebro estava completamente desligado.
À noite, fui dormir na estação de metrô que fica a 15 minutos de casa. Percebi que me sentiria mais segura no chão frio da estação do que no meu próprio apartamento, que fica em um andar alto. Dois porões perto da minha casa estavam fechados, e o abrigo mais próximo que estava aberto não estava preparado para a guerra.
Depois do primeiro dia, estava claro que a situação só ia piorar, então eu tive que agir. Escrevi para os meus parentes e, logo de manhã, estávamos indo de Kiev para Quixinau, Moldávia.
Passamos cerca de vinte e sete horas na estrada. Meu tio, que estava dirigindo a maior parte do tempo, é um herói. Psicologicamente, o momento mais desafiador da viagem foi na região de Vinnytsia. Meus parentes estavam conversando com um conhecido da Rússia no alto-falante, que argumentou que outros países estrangeiros eram os culpados pela situação toda. Neste momento, um alarme aéreo soou em Vinnytsia. As sirenes nos acompanhavam quando saímos da cidade e, por um momento, esquecemos como respirar.
Ao chegar em Quixinau, fomos recebidos por uma voluntária local, Diana. O mundo depende de pessoas como ela. Diana vive em um país onde não há guerra, então pode viver sua vida com segurança. Nas primeiras horas da guerra, ela entrou em contato com todos os seus conhecidos na Ucrânia, os convenceu a procurar locais seguros e os ajudou a encontrar moradia. O nível de apoio dos povos locais na Moldávia, e assim como em outros países, é incrível, é mais do que eu poderia imaginar.
Um menino local de 5 anos que morava ao nosso lado deu um chaveiro para mim e meu primo e disse: “Mãe, por que a guerra começou? As pessoas não entendem que isso provoca mortes?”.
Agora, estou em Berlim. Eu e meus colegas fomos extremamente sortudos: VistaPrint, proprietária do Depositphotos, ofereceu apoio financeiro para realocação e assistência habitacional que pode ser usado por todos os 450 membros da equipe ucraniana. Não importa onde você esteja, é difícil se sentir 100% seguro e calmo durante uma guerra. Mas pelo menos temos resistência na forma de apoio da nossa empresa. E isso é extremamente valioso nos momentos em que a vida virou de cabeça para baixo.
Svitlana Unuchko, colaboradora do Depositphotos
Na madrugada do dia 24 de fevereiro, fui acordada por sirenes e alarmes de carros. Eu não entendi o que estava acontecendo. Eu sabia que estava viva, mas que isso podia mudar a qualquer momento.
A dimensão e o horror do que estava acontecendo não pareciam reais. No primeiro dia de guerra, continuei em Kiev. Minha mãe estava comigo depois que teve um derrame. Ela não podia ficar indo e vindo do abrigo antibombas cinco vezes por dia. Então, ficamos no apartamento, assistimos ao noticiário e apoiamos mentalmente os nossos defensores. Toda vez que um ataque aéreo era anunciado, não sabíamos como as coisas terminariam, mas tentamos ao máximo não pensar em coisas negativas.
Com as minhas imagens, quero mostrar a feiura da guerra. Os criminosos precisam ser detidos. Precisamos de justiça. Enquanto estava escrevendo isso, duas explosões aconteceram aqui do lado de fora da minha janela, alarmes de carro dispararam.
Kate Starokoltseva-Skrypnyk, redatora do Depositphotos
Às 6h da manhã do dia 24 de fevereiro, meu pai me ligou e disse “A guerra começou. Estamos de saída.”, me levantei e comecei a ligar para meus amigos e família.
Desde então, 34 sirenes de ataque aéreo soaram na minha cidade. Cada sinal de ataque aéreo aciona um algoritmo:
Colocar o gato na caixa de transporte -> Pegar um kit de primeiros socorros -> Colocar botas e jaqueta -> Ir para o porão -> Pensar sobre a vida e suas fragilidades -> Receber uma notificação de que é seguro sair do abrigo antibomba -> Ir para o apartamento 11 e continuar vivendo como se não houvesse nenhum perigo mortal e nada tivesse acontecido.
***
Eu sabia que existia a possibilidade de haver uma guerra? Sim, eu sabia. Conversei sobre isso com a minha família de físicos e matemáticos, bem antes do primeiro ataque russo. Planejamos rotas de fuga, calculamos como isso poderia acontecer e acreditamos na teoria da probabilidade (que indicou que a guerra era improvável). Mas a realidade, é claro, acabou sendo muito pior do que qualquer erro matemático.
Eu não pensei que eu choraria, dormiria ou sofreria com náuseas constantes nos primeiros dias. Eu não pensei que eles bombardiariam minha amada Kiev, onde fui a uma conferência sobre desenvolvimento de jogos há alguns meses, onde me sentei com meus amigos em um café em Podil (um bairro antigo) e comi khachapuri.
Eu não acreditei, ou não queria acreditar, que era possível resolver questões utilizando mísseis em pleno século 21..
***
Na cidade dos cappuccinos com ristretto e croissants doces, as palavras “Putin”, “morte”, “bomba” e “refugiado” são frequentemente ouvidas. Aqui, as pessoas escondem seus gatos e cachorros em jaquetas para salvá-los do frio. Aqui, elas se sentam com crianças no chão frio da estação de trem por nove horas para conseguir sair do país. Aqui, aquecem as mãos sobre um barril de ferro e escondem obras de arte longe de explosões.
Mas quanto mais sombrios os tempos, mais brilhantes as pessoas. E sou salva por esta luz: faço chá, acendo uma guirlanda, conheço meus vizinhos e apoio meus entes queridos..
Anna Pasichnyk, colaboradora do Depositphotos
Eu moro em um dos subúrbios de Kiev e decidi ficar por aqui. Tenho filhos, pais, cinco gatos e um cachorro. Eu fotografo minha filha e meu filho porque estou sofrendo. Eu e meus filhos estamos com muito medo. O aniversário do meu filho é em cinco dias. Ele está há muito tempo esperando para comemorar com seus amigos, mas em vez disso, estamos todos escondidos em abrigos antibombas. Ninguém irá à sua festa de aniversário. Ele não vai receber nenhum presente. Estamos todos esperando pelo Dia da Vitória!
Este inferno foi criado pela humanidade. É desonesto, é cruel, é doloroso. Continuo fotografando porque é o meu dever. Quero chamar a atenção para a Ucrânia.
Maria Sibirtseva, líder da equipe de conteúdo do Depositphotos
Despertei com o telefonema do meu pai às 5h da manhã no dia 24 de fevereiro. Meio sonolenta, ouvi ele dizer “Maria, a guerra começou. Por favor, pegue suas coisas e venha para nossa casa. Temos que nos unir a partir de agora”.
Apesar das notícias se concentrarem frequentemente nas ameaças da Rússia nos últimos meses, eu não conseguia acreditar que uma guerra desse patamar fosse possível em pleno 2022. Calmamente, tomei banho, fiz meu cabelo e esperei meu café ficar pronto enquanto eu verificava as notícias. Como não havia muita coisa sobre a guerra ainda, eu achei que fosse uma piada. Então, telefonei para os meus pais para avisar que eu estaria esperando uma encomenda chegar na hora do almoço e depois me dirigiria até a casa deles. Logo depois, as sirenes começaram a soar uma por uma.
Consegui pegar apenas dois jeans e três suéteres, algumas joias, meu passaporte e meus aparelhos eletrônicos. Depois de alguns dias, cansada de ficar tremendo a cada explosão, decidi deixar Kiev sem saber o que me esperava na estrada ou até mesmo no futuro.
Levamos seis horas para conseguir sair de Kiev. O congestionamento estava tão grande que não dava para ver onde terminava, mas também não era possível fazer nada a respeito. Após cinco horas imóveis, descobrimos que a saída estava bloqueada por tanques e batalhas severas estavam acontecendo nas proximidades. Desviamos por áreas residenciais que tremiam com as explosões. Os sons das explosões eram tão fortes que o carro tremia. Prevíamos o pior, mas o pior ainda estava por vir.
As próximas quinze horas foram repletas de “aventuras”. Dirigimos por estradas com canos de canhões de tanques apontados para nós, com alertas de ataque aéreo nos campos (quando não tínhamos onde nos esconder) e, claro, com pessoas desesperadas em cada esquina.
Trinta horas se passaram desde que deixamos Kiev, então decidimos descansar no carro. Começamos a adormecer, no entanto, os sons dos tiros estavam tão perto que ficamos literalmente colados aos assentos. Em poucos segundos, não estávamos mais cansados ou com sono. Seguimos sem parar pelas próximas oito horas até cruzarmos a fronteira.
Ao chegar na fronteira, ainda dirigimos por mais sete horas, que no total foram três dias sem dormir e de absoluto terror.
Desde o dia 24 de fevereiro não permito que o medo tome conta de mim. O instinto de autopreservação me manteve em movimento até ter certeza de que estava segura. Após chegar em Varsóvia e dormir por algumas horas, fui a uma cafeteria pela manhã. Pedi meu cappuccino duplo com leite de aveia, tomei um gole e caí em lágrimas.
Não, eu não estava com pena de mim mesma naquele momento. Senti uma dor imensurável pelo meu país, seu belo povo, seus filhos e seus avós. Nunca serei capaz de entender como um país pode atacar outro em um mundo civilizado. Por que alguém acha que tem o direito de privar as pessoas de coisas básicas como uma xícara de café pela manhã ou, pior ainda, da vida?
Apesar de já ter se passado duas semanas desde o início da guerra, às vezes parece que ainda precisamos acordar para que esse pesadelo acabe.
Daria Chaplyhina, gerente de comunicação no Depositphotos
Sou sortuda por nascer na Ucrânia. Mesmo que as explosões sejam ouvidas daqui. Mesmo que destruam as cidades. Mesmo que as famílias sejam forçadas a se separar. Mesmo vendo as lágrimas nos olhos das pessoas, e eu mesma chorando. Pensei que meu mundo estivesse desmoronando. No entanto, não foi o que aconteceu. Estou segura entre as pessoas que prezam pelo bem e pensam no nosso futuro. Estou segura com aqueles que sabem simpatizar, unir e ajudar. Com amor, apoio, senso de dignidade e justiça – tudo é possível e nada mais é assustador.
Relato anônimo
As últimas semanas pareceram uma eternidade! Tomei a decisão de deixar Kiev depois de uma ligação de um amigo que é militar. Ele avisou que eu precisava levar meus filhos para longe da capital. Organizei nossas coisas em uma hora e corri para a estação de trem junto do meu marido, dois filhos (quatro e oito anos) e meus pais (70 anos).
Assim que o trem chegou, as pessoas começaram a colidir com ele; parecia um filme de desastre, e aquela era a última chance de todos sobreviverem. Ficou pior quando meu filho mais novo começou a chorar de medo; em algum lugar, escutei um pai gritando: “Cadê meu filho?”
Conseguimos entrar no trem, mas nem todos. Nossa viagem durou aproximadamente 10 horas (para Lviv). Era como estar em um ônibus na hora do rush! Não dava para mexer os pés, estava lotado e o banheiro não funcionava porque haviam pessoas amontoadas lá.
O passo seguinte foi a nossa viagem à Polônia. Meu marido nos acompanhou até uma fila quilométrica na fronteira e retornou para Kiev, sem sequer dizer uma palavra sobre o que pretendia fazer lá. Ainda continuo preocupada com ele.
Conseguimos embarcar no trem para Przemysl, mas acabou tendo seu percurso alterado para Chelm. Havia pânico e desentendimentos por toda parte. Viajamos por mais 8 horas e pegamos outro trem para Varsóvia. Ao desembarcar às 3 da manhã, descobri que os bilhetes para o nosso próximo destino (Estetino) estavam disponíveis somente para às 12h. Não podíamos fazer mais nada além de esperar.
Meu pior pesadelo se tornou uma realidade. De repente, senti um nó na garganta e veio a vontade de chorar, mas não consegui! Sou responsável por meus filhos e meus pais aposentados. Precisei ficar em silêncio e criar um plano de ação enquanto isso!
Eu acredito verdadeiramente que conseguiremos vencer essa guerra, tanto no campo de batalha como on-line! Isso irá acontecer graças ao nosso destemor! Não temos medo de nos expressar e tenho absoluta certeza de que os navios russos irão afundar mais fundo do que qualquer um poderia imaginar!