9 Tipos de Planos de Filmagem e Quando Usá-los
O ângulo de uma filmagem é tão importante para o storytelling no cinema quanto para qualquer diálogo em um roteiro de vídeo. Ele pode tanto complementar quanto acentuar um momento, além de evidenciar o estímulo emocional de uma cena. A combinação certa de ângulos para cenas específicas também pode gerar o “sentimento” geral sobre determinado filme, criando uma atmosfera e formando uma grande parte da identidade geral de um filme. Continue lendo para descobrir 9 tipos de planos e sua finalidade no processo de filmagem.
Existem planos de filmagem que são fundamentais para o cinema em geral e que todos nós reconhecemos, mesmo que subconscientemente. E existem alguns que são mais específicos. Certos diretores de cinema são tão adeptos de certas técnicas de filmagem que seu trabalho é reconhecível de longe. Mas claro, é preciso muita prática e experiência para chegar nesse nível. Explorar os fundamentos te ajudará.
Os 9 Principais Tipos de Planos
- Plano de estabelecimento
Um plano de estabelecimento, fundamentalmente, é um montador de cena. Pode ser usado em qualquer momento durante um filme para que o espectador saiba sobre o local ou que o local mudou. Esta é uma tomada fundamental para a televisão, assim como para a tela grande.
Se você assistir a um seriado como Friends, verá que ele mostra frequentemente uma cena externa de um prédio alto antes de cortar para uma cena interna das personagens em casa. Antes mesmo de chegar a ver as salas dos apartamentos, você já sabe onde irá parar na história. A mesma coisa acontece se você está assistindo a um filme do Batman e corta para uma tomada externa de uma mansão isolada, você sabe que está prestes a se sentir em casa com Bruce Wayne
Os planos de estabelecimento funcionam como identificadores. Por exemplo, o Empire State Building? Você sabe que está em Nova York. Palácio de Buckingham? Você sabe que está em Londres. O plano de estabelecimento também pode ser referido como ‘tomada de longa distância’. A câmera é recuada e reduzida com uma grande área capturada para definir o local da ação.
2. Plano médio
Também conhecido como ‘plano aberto’. O recuo da câmera não é tão extremo quanto a cena inicial, mas ainda engloba o ambiente ao redor de uma maneira semelhante em grande escala. É um pouco mais próximo do que o plano de estabelecimento, possibilitando que os espectadores explorem o cenário mais de perto.
No plano médio, o personagem em questão é totalmente visível da cabeça aos pés – mas não o único foco da cena. Ele permite que você veja os personagens interagirem com o mundo ao seu redor – ou, inversamente, o mundo se movendo ao seu redor.
Os planos abertos geralmente são de alguém sozinho na praia ou andando por uma rua e entrando em uma loja ou restaurante. Esses tipos de tomadas geralmente são rápidas, usadas como transição entre as cenas. Mas também podem desempenhar um papel mais longo e importante na narrativa. Como por exemplo, para retratar a solidão em filmes como Taxi Driver.
3. Primeiro plano
O primeiro plano, também conhecido como close-up, é uma técnica fundamental para capturar intimidade e emoção. Geralmente, uma cena em primeiro plano enquadra um personagem dos ombros até o topo de sua cabeça. O personagem não precisa necessariamente dizer nada – o close-up (quando usado em um rosto) é para capturar expressão e mostrar ao espectador o sentimento do personagem no momento. Estar tão próximo e pessoal com o rosto do personagem também é uma maneira de informar os espectadores de que o que está acontecendo naquele momento é importante.
É claro que estes planos podem ser usados de outras formas. Pense no filme O Silêncio dos Inocentes e no momento em que o dedo de Hannibal toca a mão de Clarice Starling: o close-up é usado para transmitir intimidade, ainda que de forma não convencional. Além disso, os closes faciais são importantes por retratar a reação de um personagem, seja choque, horror, alegria ou surpresa.
4. Plano detalhe
O plano detalhe pode ser usado para várias finalidades. Quando usado em um rosto, pode adicionar mais peso a uma cena do que o primeiro plano, o close-up padrão. Por exemplo, ao ser ampliado em um olho enquanto uma lágrima escorre.
Os planos detalhe são feitos para destacar o emocional por meio da concentração em uma parte do rosto do personagem ou para revelar detalhes sobre algo que não seria visível com o uso de qualquer outro plano.
Os planos detalhe normalmente são muito intensos e muitas vezes podem ser difíceis de assistir. Podem deixar o espectador desconfortável, especialmente durante cenas que são dolorosas emocionalmente. A proximidade do rosto do personagem pode dar uma sensação de imediatismo e realmente adicionar intensidade.
O plano detalhe permite que os diretores sejam criativos na hora das filmagens. Eles podem revelar coisas cotidianas de maneiras que você nunca viu antes.
Esse plano é tão versátil que pode ser usado para gerar tensão e estabelecer uma atmosfera forte. Por exemplo, pense no diretor David Fincher e nos créditos da abertura do seu filme Se7en – Os Sete Crimes Capitais. Várias imagens são vistas de perto, coladas e sobrepostas, criando ao mesmo tempo uma sensação muito específica, definindo o tom para o resto do filme.
5. Plano sequência
Este plano é mais complicado do que parece. Os planos sequência seguem o movimento do assunto usando um dolly (carrinho de rodas) ou um steadicam (estabilizador de câmera). A cena pode seguir um personagem enquanto atravessa uma multidão ou uma casa, ou pode ser usada atrás de um carro durante uma sequência de perseguição ou em um trolley em um corredor de hospital.
Esse plano requer muita precisão, pois precisa ser bem cronometrado e coreografado tanto pelo operador de câmera quanto pelos atores dentro do enquadramento.
As sequências também podem ser usadas para criar um suspense. Um filme de terror pode usar um plano de sequência lento, por exemplo, quando algo está rastejando para fora de uma floresta e lentamente indo em direção a uma cabana. Isso transmite uma sensação de pavor, que quem está dentro da cabana desconhece, induzindo uma sensação de estar na beira do assento dos espectadores.
6. Plano subjetivo
O plano subjetivo, também conhecido como ponto de vista, pode ser muito eficaz. Ele permite que o espectador veja uma cena do ponto de vista de um de seus personagens. Dando assim, uma sensação real de imediatismo.
Ver algo através dos olhos de um dos protagonistas do filme pode tornar tudo mais surpreendente ou chocante, e dar ao espectador uma ideia real da experiência pela qual o personagem está passando. Este plano é ótimo tanto para contar histórias dramáticas quanto para cenas cômicas.
Um bom exemplo é o seriado britânico Peep Show. Nele, cada episódio mostra o ponto de vista de todos os personagens, muitas vezes na mesma cena, destacando também como os indivíduos estão interpretando o mesmo acontecimento na frente deles.
7. Crash-Zoom
Alguns cineastas desenvolvem seu próprio estilo e possuem ângulos exclusivos, que gostam de usar. Ao introduzi-los em alguns pontos durante o filme, alguns diretores criam uma cena característica. Um ótimo exemplo disso é Quentin Tarantino e o seu famoso ‘crash zoom’, um efeito que ele usou em muitos de seus filmes, sendo mais notável em ambas as partes de Kill Bill.
O cash zoom mostra a câmera avançar repentinamente em alta velocidade em direção ao assunto (geralmente um rosto) e ao longo de uma linha torta (a percurso raramente é reto), com a câmera que para a apenas alguns centímetros antes da ‘colisão’. É uma tomada rápida e nítida que acaba em um segundo, mas adiciona muito drama e urgência a uma cena.
O crash zoom não é uma técnica nova, está em uso há décadas, mas Tarantino usa frequentemente e com grande êxito. Afinal, funciona tanto no drama quanto na comédia.
8. Plano panorâmico
O plano panorâmico deve ser feito com o uso de um tripé, se movimentando da esquerda para a direita, ou vice-versa, e é uma ótima maneira para exibir o espaço físico de uma cena. A filmagem panorâmica pode ser usada para entrar em uma cena, por exemplo, movendo-se da esquerda para a direita em um terreno baldio antes de mostrar os personagens no enquadramento.
Embora seja muito utilizado em filmes convencionais baseados na realidade, também pode ser uma ótima maneira de ilustrar ambientes alienígenas em filmes de ficção científica e fantasia. O plano panorâmico pode ser um plano muito magistral e dinâmico transmitindo uma grande quantidade de informações do ambiente para o espectador.
Nota: quando uma câmera se move para cima ou para baixo na diagonal, usando o mesmo movimento de um plano panorâmico, é chamado de plano inclinado. É uma variante do plano panorâmico, possui o mesmo propósito.
9. Câmera de mão
Esta é uma maneira relativamente simples de filmar com uma câmera que pode realmente fazer com que o público entre no enredo de uma história. Por estar mais ligada à produção de documentários, essa maneira específica de filmagem atrai o público e faz com que se sintam envolvidos na ação.
O efeito ‘shaky-cam’ de documentário, é feito segurando a câmera com as duas mãos, para dar uma sensação crível ao que está acontecendo na tela. E também agrega drama e intimidade, podendo aumentar o investimento do público na história.
A técnica se tornou cada vez mais popular com programas de tv e filmes. A série dramática da FX, The Shield, que gira em torno de um grupo de policiais corruptos em Los Angeles, utilizou muito dessa técnica. Isso deu uma notoriedade para o programa por conta do seu realismo corajoso, dando uma sensação de estar realmente lá e ser pego no desenrolar das histórias. O uso das câmeras portáteis foi muito intenso e eficaz.
Resumindo
Estes são alguns planos fundamentais que contribuem para o cinema. Tente encontrá-los enquanto assiste a filmes e programas de TV para que você veja a construção da narrativa sendo formada por meio desses ângulos específicos e como os diretores os usam para maximizar a eficácia da história. E se você for filmar algo sozinho, espero que esta lista te ajude.