Entrevista com Katalin Száraz, a 2ª Ganhadora do Concurso “Autenticidade 2.0”
Katalin Száraz, a segunda colocada no concurso de fotografia “Autenticidade 2.0” do Depositphotos, é uma fotógrafa de fine art da Hungria que atualmente mora em Paris. Desde muito jovem ela já se interessava por arte e imagens, e ela conseguiu a sua primeira câmera quando tinha 14 anos.
“Meu pai é marinheiro, e uma vez eu tive a chance de visitá-lo no seu barco em um porto na Dinamarca por algumas semanas. Eu cheguei com o meu caderno de desenho e algumas coisas de arte, mas quando eu peguei a câmera dele nas minhas mãos eu comecei a desvendar a cidade tirando fotos. Depois que eu voltei para a Hungria trouxe a câmera dele comigo, e foi assim que a minha jornada com a fotografia começou.”, disse Katalin.
Anos depois, Katalin estudou fotografia na faculdade e trabalhou em diferentes projetos fotográficos de fine art, retratos e moda. Falamos com ela para descobrir mais sobre o seu passado criativo, sua paixão pelas técnicas arcaicas de fotografia e seus trabalhos premiados.
A abordagem artística na fotografia
Como eu já era adepta ao desenho, sempre tive uma abordagem artística para a fotografia. Em certo momento, parecia que tinha trocado meus pincéis e lápis por equipamentos fotográficos.
Quando eu começo um projeto, primeiramente eu foco no conceito dele. Algumas vezes eu penso, faço anotações e desenhos durante um mês inteiro antes de começar a fotografar de fato.
O que eu quero expressar é o primeiro passo que preciso pensar, depois disso posso escolher as ferramentas que irão fazer acontecer. E elas podem ser qualquer coisa – desde uma câmera de brinquedo de plástico até criar vídeos ou construir uma instalação – as opções são infinitas. Gosto muito de experimentar novas técnicas que também me ajudam a evitar de retornar aos métodos antigos e ultrapassados, e a aprender coisas novas.
Durante alguns dos meus últimos projetos, experimentei trabalhos mais intuitivos e pessoais, utilizando a fotografia como uma espécie de terapia ou ritual. Dessa maneira, eu me esforço para aprender como é quando não posso interferir em todos os detalhe.
Foto da série “Phases” / © Katalin Száraz
Tendo ideias para projetos
Quando eu estou realmente interessada em algum assunto, eu faço pesquisas a fundo e algumas vezes é assim que tenho uma ideia. Eu sempre gostei que a fotografia dá chances de me conectar com tópicos interessantes durante o meu trabalho.
Então nos últimos cinco anos, eu comecei a desenvolver mais e mais questões e sentimentos pessoais nos meus projetos, porque eu percebi que processar suas próprias emoções pode deixar os trabalhos poderosos e honestos. E também tem que ter um pouco de coragem para se abrir.
A história por trás da foto premiada
Essa foto faz parte de uma série de imagens que eu estava trabalhando durante o lockdown.
Eu fiz a foto vencedora quando a quarentena oficial de Paris tinha acabado. Enquanto fomos obrigados a ficar em nossas casas, as ruas ficaram silenciosas e vazias. Mas quando isso acabou, e ficamos mais ou menos livres das restrições, tudo mudou em um dia, embora eu não acreditasse que as coisas pudessem melhorar tão rápido. Porém, não tomei isso como uma liberação e continuei observando as coisas por dentro. Com este autorretrato, eu estava transmitindo esse estado confuso e observador, enquanto espiava pela janela do quarto.
A foto vencedora da série “Phases” / © Katalin Száraz
Para criar o cenário dessas fotos, usei uma mistura de luz natural do dia, flashes e postes de luz da rua. Meu objetivo era criar uma atmosfera em que o espectador não tivesse certeza sobre a hora do dia. Acho que é um elemento muito típico dos dias em lockdown, uma vez que perdemos lentamente a noção do tempo.
Criar essa série de fotos me ajudou muito a superar meus sentimentos ruins sobre o lockdown e sobre a pandemia.
Meus projetos e trabalhos em andamento, incluindo a foto premiada
Eu tenho vários projetos que terminei recentemente ou em andamento, mas alguns deles eu tive que dar uma pausa por conta da pandemia.
1. “Phases”
Vou começar pelo projeto no qual a minha foto premiada pertence.
Como eu já disse anteriormente, eu fiz esse trabalho durante o primeiro lockdown, passando todo o meu tempo atrás das portas trancadas da minha casa durante dois meses. Quando essa situação toda aconteceu em março, de primeiro eu me senti perdida, confusa e ansiosa.
Ficar em casa durante um lockdown tem seu lado positivo quando você mora em um país estrangeiro e já está lidando com suas ideias sobre o significado de casa.
Comecei a transformar minhas ideias e meus sentimentos em formas visuais. Fiz esboços e depois “construí” as imagens. Estava se tornando um estranho interposto entre documentar minha vida durante a quarentena, misturado com a projeção das minhas emoções. Acabou se tornando uma estratégia dita para continuar criando, para permanecer são e ter a ilusão de ter controle sobre a situação. Essa série também me permitiu compartilhar meus pensamentos e sentimentos com outras pessoas, já que estamos todos conectados por um problema principal agora. Foi ótimo perceber isso.
Foto da série “Phases” / © Katalin Száraz
2. “Unsettled”
Eu desenvolvi outro projeto importante durante o verão. Desde que me mudei do meu país natal, meus principais tópicos são os aspectos emocionais e psicológicos de viver no exterior. Junto a essas ideias, venho pensando há muito tempo em um projeto lento e experimental, e finalmente, poderia arranjar um tempo para isso neste ano peculiar.
Este é um projeto de foto e vídeo baseado na técnica de emulsão por polaroid. Eu sou adepta a emulsão flutuante, seu estado pairando e amassado como um reflexo do estilo de vida sem raízes e da mentalidade que acompanha. Às vezes é difícil dividir sua vida entre países diferentes, e eu queria transformar esses sentimentos fortes, que estão constantemente presentes na minha vida, em um trabalho.
Foto da série “Unsettled” / © Katalin Száraz
3. La fille du marin
Ano passado eu também comecei um projeto de longo prazo sobre minha herança pessoal. Tenho viajado e tirado fotos na Ásia para desvendar os lugares para onde meus pais estiveram juntos décadas atrás. Minha mãe costumava viajar com o meu pai no navio de carga, mas devido a algumas mudanças no início dos anos 90 na Hungria, eu não tive chance de viajar com ele assim como ela, mesmo se eu realmente quisesse.
Cresci ouvindo histórias sobre suas aventuras e imaginava os lugares e as anedotas na minha imaginação quando eu era criança. Essa herança familiar influenciou muito a minha vida e me deu vontade de viajar e descobrir o máximo que eu puder e conseguir. Ainda estou processando este trabalho e com certeza será uma longa jornada pessoal.
Não consigo escolher um projeto favorito. Por um lado, estou emocionada com eles, pois são muito pessoais. Por outro lado, posso ser crítica comigo mesma e, com o tempo, poderei vê-los de forma diferente. Eu sempre aprecio mais os meus projetos quando estou trabalhando neles, então posso seguir o fluxo.
Trabalhando com as técnicas arcaicas de fotografia
Nos meus trabalhos anteriores, venho criando ambrótipos (uma fotografia positiva em vidro), argentotipos (processo de impressão de prata à base de ferro, uma derivação de ambrótipos) e cianótipos (um processo fotográfico que produz impressões em azul ciano). Eu descobri as técnicas em um acampamento de arte chamado “Foto Falu” no interior da Hungria em 2012, e foi assim que me apaixonei por elas. Mas, como estou sempre pra lá e pra cá, é mais difícil encontrar uma maneira de trabalhar com essas técnicas, mas eu adoraria voltar a usá-las no futuro.
O meu interesse por técnicas arcaicas vem da minha ‘atitude de artista plástica’. Adoro criar coisas com as mãos, usando materiais concretos, e também tive algumas ideias em que parecia ser uma combinação perfeita. Por exemplo, eu tinha um projeto em que queria criar colagens de novas criaturas baseadas nos negativos de raios-X de diferentes animais. A técnica argentotipo se tornou a melhor saída para fortalecer a ideia. Quando o exibi, algumas pessoas ficaram confusas ao ver os papéis destroçados e se perguntaram se realmente viram fósseis reais ou não.
Mas não se trata apenas de técnicas arcaicas, eu diria mais da fotografia experimental, no geral, é o que eu realmente gosto. Também passei muito tempo usando a câmara escura e fiz alguns experimentos com filmes em folha e fogo, por exemplo. Este ainda é um dos meus projetos favoritos, muito profundo e pessoal, onde pude encontrar o suporte certo para minhas ideias usando as técnicas de combinação.
Fontes de inspiração
Muitas vezes, tenho ideias a partir de experiências e impressões pessoais. Quando penso em um novo projeto de arte, tento não procurar outras obras, mas tento recriar o que tenho em mente. Embora sejamos todos influenciados subconscientemente pelas imagens que vemos.
Foto da série “Nocturne” / © Katalin Száraz
Muitas vezes eu escuto podcasts, palestras, entrevistas e eu acho muito interessante saber as abordagens dos artistas e suas ideias em áreas diferentes.
Quando busco inspiração nas fotografias de moda é um pouco diferente. É muito estimulante buscar imagens como referências e criar painéis semânticos. Filmes e pinturas sempre me inspiram na hora de preparar um editorial.
A música pode ser uma ótima inspiração também, estou sempre ouvindo quando trabalho.
Conselho para os aspirantes a profissionais que gostariam de ter fotos premiadas
Meu conselho é: continue criando e se desafiando a tentar coisas novas para descobrir o que é melhor e o que você sabe fazer de melhor.
Trabalhe muito, seja exigente consigo mesmo e não tenha vergonha de mostrar suas imagens. Buscar e pôr em prática as oportunidades é muito importante para fazer as coisas acontecerem.